Ensaio sobre Tonito, pelos seus cem anos
Cem anos não são apenas uma medida do tempo; são uma forma de silêncio acumulado, de gestos repetidos até virarem caráter.
Tonito atravessou um século como quem atravessa uma rua longa: atento, com passos firmes, sabendo que cada travessia exige cuidado, mas também coragem.
Tonito pertence a uma geração que aprendeu cedo que a vida não se explica — se vive. O mundo lhe ensinou mais pelo peso do trabalho do que pelas palavras, mais pelo dia seguinte do que pelas promessas.
Seu tempo foi feito de madrugadas, de mãos calejadas, de decisões simples que sustentaram coisas grandes: família, honra, permanência.
Ao longo dos anos, Tonito viu o mundo mudar de roupa muitas vezes. Viu a lentidão virar pressa, o encontro virar aviso, a conversa virar ruído. E mesmo assim permaneceu inteiro, como uma árvore antiga que não discute com o vento: apenas aprofunda as raízes. Há em Tonito uma sabedoria que não vem dos livros, mas da repetição atenta da vida — errar, corrigir, seguir.
Cem anos também são um arquivo vivo.
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Antonio Alvarez Parada e seu sobrinho Cesáreo Parada Jr
Em Tonito moram histórias que não pedem palco, apenas escuta. Histórias de perdas aceitas sem espetáculo, de alegrias discretas, de afetos demonstrados mais por presença do que por discurso. Seu jeito de amar foi o de ficar. Seu modo de ensinar foi o de fazer.
Celebrar os cem anos de Tonito não é olhar para trás com nostalgia, mas reconhecer que o futuro precisa desse tipo de passado.
Num tempo que descarta rápido, Tonito é permanência. Num mundo que fala demais, ele é medida. Sua existência afirma, sem alarde, que viver bem não é brilhar — é durar com dignidade.
Tonito chega aos cem anos não como quem encerra um ciclo, mas como quem se torna referência. Ele é prova de que o tempo, quando atravessado com honestidade, não envelhece: amadurece.
Cesáreo Alvarez Parada Jr.
27 de Dezembro de 2025.
