No artigo de hoje, iremos contar um pouco da história da Casa de Caridade e de um herói dos pobres que viveu em Macé, o Casculeiro. Dentro dessa história, entra em destaque também um prato típico do século XIX, muito consumido e apreciado. Esse texto é um convite para desvendarmos mais uma história, enaltecendo a memória macaense e o elo que une o passado e o presente.
Na data de 02 de dezembro de 1867, aniversário de D. Pedro II, foi lançada a pedra fundamental da Casa de Caridade de Macaé.
O curioso é que, mesmo já existindo a necessidade da construção de um hospital para os mais necessitados e aqueles de condições financeiras parcas, a casa de caridade era então, apenas um plano futuro.
A iniciativa dessa construção se deu a partir do testamento de um português Antonio Joaquim d'Andrade, que vindo de Portugal, no começo do século XVIII, se instalou na colônia portuguesa existente em Macaé, onde viveu até o fim de seus dias.
Aqui em Macaé, iniciou suas atividades econômicas com a confecção e venda de cuscuz, uma iguaria da época feita de farinha de milho, peixe e ervas aromáticas, o que lhe rendeu o apelido de "Casculeiro".
Como a guloseima era muito apreciada por todos e o Casculeiro muito dedicado, conseguiu poupar boa quantia em dinheiro e alguns bens.
O Casculeiro contraiu um bom dinheiro, terrenos, escravos, muitos objetos de ouro, o que ficaram registrados em seu testamento.
Porém ele não havia se casado nem tido filhos e, neste testamento que deixou ao falecer, o Casculeiro revelou seu grande sonho, que era construir uma casa de caridade, até então inexistente na cidade, com a finalidade de receber os pobres e miseráveis que tivessem a necessidade de atendimento médico e medicação, sem possibilidades de arcar com os custos.
No referido testamento ele colocou à disposição desse sonho toda riqueza que havia acumulado em vida, que deveria ser colocada no Banco do Brasil, para render juros até a execução da obra. No entanto, se no prazo de dez anos a obra não houvesse sido iniciada, esse dinheiro, com todos os rendimentos de juros acumulados, deveria ser encaminhado a um sobrinho em Portugal.
Passados cinco anos do falecimento do Casculeiro, o tabelião Polycarpo Francisco, alertou o então, Juiz de direito de Macaé, Dr. João Alvares da Siqueira Bueno, a necessidade de ser construído um hospital para a população mais carente, que já havia sido ordenada no Decreto Provincial de 14 de agosto de 1851, impondo a elaboração de planta e realização de orçamento para sua execução.
Ao tomar conhecimento do legado do Casculeiro, o Dr. Bueno deu início a uma comissão presidida por ele, em sete de setembro de 1867, angariando fundos para complementar, financeiramente, as necessidades da edificação.
A inauguração oficial se deu no dia primeiro de maio de 1871, com discurso do Dr. Bueno, perante os colaboradores da obra e toda sociedade, onde aproveitou para prestar contas.
Hoje a Casa de Caridade de Macaé é gerida pela Irmandade São João Batista.
Grazielle Heguedusch – Turismóloga com Pós graduação em História e Cultura no Brasil. Criadora do Almanaque Macaé Turismo e do Desvendando Macaé. Autora do Be-a-bá do Receptivo Turístico de Macaé. Pesquisadora do OMM Observatório da Memória Macaense.
Rúben Pereira – Musico, Poeta e Memorialista. Criador do Almanaque Macaé Turismo e do Desvendando Macaé. Gerencia o OMM Observatório da Memória Macaense. Co-autor do Be-a-bá do Receptivo Turístico de Macaé. www.almanaquemacaetur.com.br