A cidade de Araruama terá sua história e seus processos de transformação reunidos no documentário Araruama Memórias de uma Cidade em Transformação, assinado pelo jornalista Luigi do Valle. A pré-estreia acontece nesta terça-feira (16), às 19h, na Casa de Cultura de Araruama, enquanto o lançamento oficial está marcado para o próximo sábado (20), no canal do autor no YouTube. A produção foi contemplada pela Política Nacional Aldir Blanc e tem como proposta valorizar a memória coletiva e a identidade cultural do município.
Mais do que um registro cronológico, o documentário se apresenta como um instrumento de resgate para as novas gerações. Ao longo do filme, historiadores, pesquisadores e lideranças locais ajudam a reconstruir a trajetória da cidade, destacando a herança indígena, negra e portuguesa. O projeto aposta em recursos audiovisuais contemporâneos, incluindo o uso de ferramentas de inteligência artificial para criar ilustrações animadas, além da restauração de fotografias antigas transformadas em vídeo.
A narrativa retorna ao período anterior à colonização, quando povos Tupinambás habitavam a região conhecida como Iriruama, expressão que significa lugar de muitas conchas. A relação desses povos com a Lagoa de Araruama, fonte de subsistência e organização social, contrasta com o impacto violento da chegada dos europeus no século XVI. O filme aborda alianças, conflitos e o extermínio provocado por doenças e guerras, além de destacar a formação dos quilombos de Sobara e Prodígio, que permanecem como símbolos de resistência cultural.
A produção também percorre o ciclo econômico do sal, responsável por transformar Araruama em um dos maiores polos salineiros do país. A atividade, impulsionada por técnicas trazidas pelos portugueses, marcou um período de prosperidade e deixou sua marca no brasão municipal. O documentário relembra ainda a expansão ferroviária no início do século 20, quando a cidade chegou a contar com duas estações, uma no centro e outra no bairro Ponte dos Leites, integrando a Região dos Lagos ao desenvolvimento nacional da época.
Com o enfraquecimento das salinas e o fim da Estrada de Ferro a partir da década de 1970, Araruama passou por uma mudança de perfil. O filme mostra como a inauguração da Ponte Rio-Niterói e da Rodovia Amaral Peixoto impulsionou o crescimento urbano e um intenso movimento imobiliário, consolidando o município como destino turístico e de veraneio, com áreas emblemáticas como a Praia do Barbudo e o complexo Gigi.
A Lagoa de Araruama ocupa papel central na narrativa e é apresentada como protagonista dessa história em constante mudança. O documentário aborda sua vocação para os esportes náuticos, que projetou a cidade nacional e internacionalmente como referência no kitesurf. Ao mesmo tempo, expõe os desafios atuais, em um contexto no qual o município figura entre os maiores beneficiários de royalties de petróleo no estado, mas enfrenta a necessidade de diversificar a economia e planejar um futuro sustentável para além desses recursos.
A escolha pela pré-estreia aberta ao público, na Casa de Cultura, simboliza a intenção do projeto de devolver a história à própria comunidade antes de expandir seu alcance para o ambiente digital, reforçando o compromisso com a memória, a identidade e o pertencimento cultural de Araruama.