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Desvendando Macaé: Série 100 anos de TONITO - Parte 3

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No dia 27 de dezembro de 2025, o professor Tonito completará 100 anos

Celebrar a memória e o centenário de Antonio Alvarez Parada é, antes de tudo, um ato de valorização da cultura local. É reconhecer que a história não vive apenas nos documentos de arquivos ou nos livros, mas também nas vozes, nas lembranças e nos gestos de quem soube amar, registrar e compartilhar a alma de um lugar.

Apesar de muitos pesquisadores, autores e a própria sociedade macaense se referirem a Antonio Alvarez Parada como um historiador com “H” maiúsculo, ele próprio não se via dessa forma. Sentia que não dominava suficientemente as técnicas acadêmicas que, em sua visão, eram indispensáveis ao exercício da profissão de historiador. Essa humildade, no entanto, não o impediu de dedicar sua vida à história de sua terra.

Em vez de recuar diante dessa limitação, Tonito encontrou novos caminhos para construir e compartilhar conhecimento. Descobriu na oralidade sua grande aliada: se a escrita acadêmica lhe parecia uma barreira, a palavra falada se tornava ponte. A voz era sua ferramenta, e o desejo de contar histórias era mais forte do que qualquer obstáculo técnico.

O chamado que sentia no peito era verdadeiro. A paixão pelas raízes macaenses pulsava junto aos apelos das pessoas que ansiavam por ouvir suas narrativas. Esse vínculo entre o narrador e sua comunidade se transformou em combustível para sua trajetória.

Em pé o Professor TONITO, lecionando o 2° Curso de História de Macaé, no Colégio Luiz Reid em 1967. Entre os presentes, ao seu lado, sentados, estão Álvaro Bastos e Joaquim Murteira

Em uma entrevista concedida ao jornal O Século, edição nº 2.670, de janeiro de 1979, Tonito desabafou com sinceridade sobre essa inquietação que o acompanhava:

“A impossibilidade que tenho, por falta de conhecimentos mais profundos, de escrever algo realmente digno do título História de Macaé, sempre deixou-me sem poder atender a sugestões nesse sentido. Sugestões partidas de amigos e de leitores das várias coisas que, sobre o passado de minha terra, venho escrevendo, há anos em livros e jornais. Sempre procurei, entretanto, contornar aquela impossibilidade. Se não podia escrever uma História de Macaé, o jeito era contar histórias de Macaé".

Esse desejo de contar histórias — e não apenas escrever uma história oficial — o guiou por caminhos únicos. O professor Tonito tornou-se uma ponte viva entre o passado e o presente, aproximando gerações da memória de Macaé. Seu comprometimento com a cidade era visceral.

Além das colunas de jornais que assinava com regularidade, publicava também textos avulsos, nos quais revisitava temas já explorados ou trazia à tona novas descobertas sobre a história local.

Sua dedicação não se limitava ao papel e à tinta. Parada também se expressava pelas artes plásticas — um talento menos conhecido pelos macaenses, mas igualmente importante. Por meio de suas pinturas, ele registrou paisagens e cenas do cotidiano da cidade durante as décadas de 1950 e 1960. Essas obras visuais, além de emocionantes, se consolidaram como documentos históricos de grande valor para compreender aquele período.

Mesmo sem diploma na área, Antonio Alvarez Parada é, até hoje, reconhecido como um dos grandes guardiões da memória macaense. O respeito e a admiração que conquistou não nasceram apenas de seus escritos, mas de sua presença afetuosa na vida comunitária. Pessoas próximas — familiares, amigos, colegas, antigos alunos e admiradores — destacam constantemente seu carisma, sua sensibilidade e sua dedicação inabalável. São essas qualidades que compõem o que muitos chamam de “mistério de Tonito”.

Um dos aspectos mais decisivos para sua notoriedade foi sua habilidade de comunicar-se com o público por meio da imprensa local e regional. Foi ali, nas páginas dos jornais, que suas ideias alcançaram os olhos e corações de muitos. Mesmo aqueles que não tiveram contato com sua atuação como magistrado ou com seus livros passaram a conhecê-lo e a reconhecê- lo como um símbolo da história viva de Macaé. Ao longo do tempo, seu nome foi se transformando em sinônimo de pertencimento, de memória e de identidade: para muitos, Tonito passou a significar, simplesmente, História.

Sentado diante de sua máquina de escrever, ele registrou memórias preciosas, construiu pontes com o passado e alimentou o senso de identidade cultural da cidade. Sua obra se tornou um verdadeiro tesouro para historiadores, professores, estudantes e todos os que desejam conhecer e valorizar as raízes de Macaé.

Antonio Alvarez Parada nos deixou em 15 de março de 1986, faleceu em São Paulo, em decorrência de um procedimento médico. Deixou, no entanto, um legado imenso, que transcende a própria vida.

Entre os bens culturais que legou à cidade, destaca-se sua produção autoral, que inclui a letra do Hino de Macaé — composta por ele, com música de Lucas Vieira — e uma coletânea de nove livros publicados, sendo seis em vida e três lançados postumamente. São eles:

 

  • Coisas e Gente da Velha Macaé (1958)
  • ABC de Macaé – Guia Informativo e Turístico (1963)
  • Pesquisa de Ânion e Cátions (1968)
  • Histórias da Velha Macaé (1980)
  • Imagem da Macaé Antiga (1982)
  • Meu nome, crianças, é Macaé (1983)
  • Histórias Curtas e Antigas de Macaé, volumes 1 e 2 (1995)
  • Cartas da Província (2006)

 

Além desses títulos, o acervo de Tonito guarda ainda outros livros e manuscritos prontos, que não foram lançados oficialmente, mas que permanecem preservados como patrimônio documental para as gerações futuras.

Na próxima edição finalizaremos essa série, dando um spoiler sobre cada livro publicado e os itens acervo que nosso amado Tonito nos deixou como legado! Até lá!

Autores: Grazielle Heguedusch, Janne Lis e Ruben Pereira  


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