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Macaé inaugura busto de líder quilombola e reacende debate sobre história das cidades da região

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O Centro de Macaé ganhou uma bela homenagem na última semana, com a inauguração de um busto de Carukango, líder quilombola do Norte e Noroeste Fluminense, em frente ao Centro Cultural do Legislativo, antiga sede da Câmara Municipal.

O evento de inauguração aconteceu na última sexta-feira, 29 de setembro, e contou com rodas de capoeira e de jongo, promovidas pela Associação Raízes de Aruanda, além de um show comemorativo do grupo Terreiro de Crioulo na Praça Washington Luiz, também no Centro.

“A instalação do busto de Carukango pela prefeitura tem o objetivo de fazer conhecer e reconhecer a história do líder quilombola que havia sido sequestrado na África para ser escravizado. Segundo historiadores, várias personalidades negras, como Carukango, integravam as realezas de seus povos no continente africano. No Brasil, ele estabeleceu seu quilombo na Serra do Deitado, na região serrana que compreende os municípios de Macaé e Conceição de Macabu. O Quilombo Carukango foi, historicamente, o 2º maior do Brasil e o maior do Estado do Rio de Janeiro”, conta o município.

Na cerimônia de inauguração, o prefeito Welberth Rezende (CIDADANIA), enalteceu a importância da homenagem, reacendendo o debate sobre a história de uma região escravagista que muitas cidades litorâneas tentam esquecer reforçando narrativas de origens em “vilas de pescadores”.

“Estou muito feliz em inaugurar o busto de Carukango. Nossa história não foi corretamente contada. Temos que reconhecer parte de nossa história com a força de homens e mulheres negras que trabalharam para fazer o país chegar aonde chegou. Precisamos avançar na educação, incluindo os nomes de negros que fizeram a cidade ser o que ela é. Parece singela uma estátua de bronze, mas simboliza muito como resistência, sendo colocada em uma área que era escravagista”, falou Welberth Rezende.

Doutor em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), o gestor do Centro Cultural do Legislativo, Meynardo Rocha, explica que o prédio onde hoje funciona o Centro Cultural do Legislativo foi originalmente a casa de um mercador de negros escravizados, Francisco Domingues de Araújo.

“Em 1827, o português primeiro se instalou no Rio de Janeiro, onde seu irmão tinha negócios. Ele considerou a recém-criada Vila de Macaé uma praça favorável aos negócios, pois se abria para as regiões agrícolas que estavam em processo de produção ou de implantação. Por isso, ele se transferiu para Macaé em 1828, e recebeu autorização da Câmara Municipal para construir uma casa que se tornou a mais bonita de Macaé por muitos anos. Ela chegou a receber a visita de D. Pedro II, em sua 1ª viagem ao Norte Fluminense, em 1847. Comercializando negros escravizados, ele se tornou milionário”, conta Meynardo Rocha.

Turismóloga especialista em conteúdos sobre Macaé, Grazielle Hegueduch acrescenta que o busto de Carukango, instalado em um local construído por pessoas escravizadas, será um ponto de visitação turística, histórica e cultural da cidade.

“Os povos originários e os povos afrodiaspóricos não constam de nossa história e, quando constam, como facínoras, silvícolas ou criminosos. Então, é importante que se resgate e ressignifique esta história e se dê valor a estas pessoas que são de fato heróis. Muitas vezes, fala-se da violência que eles usavam, mas era a violência que eles recebiam. Foram pessoas sequestradas, comercializadas e espancadas sem direito de se defender. Lutavam com as armas que tinham. Lutavam pela sua liberdade e de seus iguais”, pondera Grazielle Hegueduch.

Aproveitando evento, o prefeito reforçou o trabalho feito em sua gestão voltado para a igualdade racial e o combate ao racismo, como a criação da uma pasta exclusivamente para essa finalidade, com a reforma administrativa de abril de 2022.

“Avançamos muito com a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a única do Estado do Rio de Janeiro, dando autonomia e muito mais força a políticas públicas contra o racismo. Além disso, em um dia no mês, as 42 mil crianças das escolas públicas municipais têm um cardápio especial baseado na culinária africana, o Nutriafro. Momento em que contamos um pouco da história”, acrescentou Welberth Rezende.

Gestora da pasta, Zoraia Braz ressaltou a relevância da inauguração do busto de Carukango no centro histórico da cidade para a valorização da história e da cultura afrodescendente no município.

“Para além do empoderamento, é a reafirmação da resistência, porque esse espaço pertenceu a um mercador de escravizados, alguém que tirou nossa história. Estamos aqui pela nossa ancestralidade, pelos que vieram antes de nós”, comentou Zoraia Braz.

Representando o Instituto de Pesquisa das Culturas Negras (IPCN), a professora Sônia Santos também elogiou a homenagem do município à sua história, lembrando também sua própria história de luta política na cidade.

“Esta homenagem é muito importante porque resgata a nossa história. É preciso que toda a população macaense se orgulhe de sua história. Tive a oportunidade de contribuir com esse processo, desde a criação da Corafro (antiga Coordenadoria de Cultura Afro Brasileira e Promoção da Igualdade Racial, precursora da secretaria) e de cursos de pós-graduação”, falou Sônia Santos.

Para a coordenadora de Cultura Afro-Brasileira e Indígena nas escolas da rede pública municipal, Kátia Magalhães, a inauguração do busto de Carukango é uma reparação histórica da cidade com sua própria história.

“Estou aqui para reverenciar a força, a coragem e a resistência de um líder negro, moçambicano, que lutou por liberdade. Todos nós somos Carukango, que vem nos dizendo que é possível. Houve um tempo em que não poderíamos estar reunidos. Hoje estamos aqui, em uma praça pública, inaugurando o busto de quem lutou por liberdade”, reforçou Kátia Magalhães.

Durante a inauguração do busto, Welberth Rezende, Sônia Santos e Zoraia Braz receberam placas comemorativas do evento, assim como a coordenadora de Políticas para a Igualdade Racial de Quissamã, Jovana de Azevedo; os vereadores de Macaé, Edson Chiquini (PSD) e Iza Vicente (REDE); e o assessor jurídico da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Dorniê Matias.

Além deles, estiveram presentes ao evento ainda a secretária de Políticas para as Mulheres, Sheila Juvêncio; o secretário adjunto de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), Gilcemar Prata; o coordenador do Escritório de Gestão Indicadores e Metas (EGIM), Romulo Campos, entre outras autoridades.


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