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Volta às aulas presenciais é tema de novo debate na Câmara de Macaé, e diretoras escolares alertam sobre riscos

Em sessão ordinária da Câmara Municipal de Macaé na manhã desta quarta-feira, 19, representantes do conselho de diretores das escolas públicas municipais se mostraram favoráveis ao retorno presencial das atividades escolares, porém, de forma segura.

As 3 diretoras escolares da rede pública municipal utilizaram o espaço do Grande Expediente, no início da sessão, para debater com os vereadores as condições das unidades para o retorno das atividades escolares da rede pública, previsto para o próximo dia 28 de junho.

Respondendo a perguntas do vereador Edson Chiquini (PSD), a diretora Márcia dos Santos Silva foi enfática e direta ao dizer que, apesar de todos os esforços que a Secretaria de Educação vem fazendo para adequar as unidades da rede pública municipal, as escolas não teriam condições de receber o retorno as aulas presenciais nas condições em que se encontram atualmente.

“Não, nós não temos condições, hoje, de voltar com as aulas presenciais. Não, nós não temos ainda a estrutura adequada em todas as escolas do município, porque ainda faltam ventiladores, não temos ventiladores suficientes; as escolas do Centro, aqui, principalmente, ainda não passaram pelas reformas que precisam passar; as escolas da Serra agora que estão passando por essas reformas de adequação, mas não estão finalizadas ainda. Então, assim, hoje, nós não temos condições de retorno. A Secretaria de Educação está dando suporte ao retorno? Está tentando. Ainda não foi o suporte total que é necessário para um volta hoje. Mas, assim, há a tentativa e há a boa vontade em fazer, mas ainda não há a condição de ser feito. Então, hoje, as escolas municipais não têm condições de retorno às aulas presenciais”, detalhou Márcia dos Santos Silva.

A diretora, porém, se mostrou favorável ao retorno seguro, assim com as outras representantes do conselho de diretores das escolas públicas municipais de Macaé, as diretoras Aline Bittencourt e Fabiana Lopes Magalhães.

“Somos favoráveis ao retorno, porém, ao retorno seguro, com estrutura física, com recurso humano suficiente para atendimento à população e à comunidade escolar, e com vacina, que é aquilo que a gente acredita como segurança”, ponderou Márcia dos Santos Silva.

Um dos parlamentares macaenses que mais vem cobrando do governo municipal sobre a vacinação dos profissionais da Educação, o vereador Thales Coutinho (PODE), voltou a falar sobre o tema na sessão desta quarta-feira, lembrando que um retorno às aulas presenciais apresenta um enorme risco à população da cidade, e não apenas aos alunos e profissionais da Educação.

“Eu já fiz essa fala aqui na Câmara. Porque o impacto do retorno às aulas [presenciais] é de a gente fazer circular na cidade cerca de 100 mil pessoas. Somar alunos da rede pública, alunos da rede particular, profissionais, pais, avós, tios, são 100 mil pessoas a mais circulando nos pontos de ônibus, nos ônibus, no transporte escolar, nas ruas, e fica a nossa preocupação”, avaliou Thales Coutinho.

O vereador lembrou ainda a situação de 16 cidades do Estado do Rio Grande do Sul,  que retornaram às aulas presenciais e estão recuando devido ao aumento do número de casos de contágio do coronavírus, e criticou a posição do governo de permitir o retorno com bandeira vermelha de risco de contágio.

“Ter aula presencial com faixa vermelha, me desculpe, eu não serei favorável a isso. Minha consciência não permite. No Rio Grande do Sul, agora, 16 cidades recuaram. Bagé, Vacaria, Caixas do Sul, eles retomaram as aulas, aumentou o número de infectados pelo vírus, suspenderam tudo de novo”, contou o vereador.

Sobre a vacinação dos profissionais da Educação, outra pauta defendida por Thales Coutinho desde o início de seu mandato, em 1 de janeiro desse ano, o líder do governo na Câmara, vereador Guto Garcia (PDT), explicou que, com o final da vacinação das pessoas com comorbidades em Macaé, os profissionais da Educação serão os próximos, mesmo seguindo o Plano Nacional de Imunização (PNI), do Ministério da Saúde.

“Quando ia ser vacinado, o que aconteceu? O STF (Supremo Tribunal Federal) deu um parecer proibindo que os profissionais da Educação fossem vacinados. O Rio já estava vacinando, teve que recuar. São Paulo já estava vacinando, teve que recuar. Então, todas as cidades do país que já tinham começado [a vacinar] os professores, tiveram que recuar. Conversando hoje cedo com o secretário adjunto de Saúde, o que ele falou? Que agora não tem mais nada. Após a comorbidade, pelo Plano Nacional de Imunização, são os profissionais da Educação, e ele espera que, no máximo, agora, no início de junho, os profissionais da Educação comecem a ser vacinados. Porque agora não tem STF, não tem mais ninguém. Porque está no PNI. O prefeito Welberth queria fazer em paralelo, profissionais da Educação e comorbidades. 59 anos, 58, 57, 56, já que a partir de 60, todos já estão vacinados. Infelizmente não foi possível, mas felizmente a partir de agora, no máximo, início de junho, todos os profissionais da Educação vão começar a ser vacinados”, revelou Guto Garcia.

Professor da rede pública municipal de Macaé, o vereador Professor Michel (PATRIOTA) desabafou sobre a situação das escolas públicas municipais da cidade e defendeu o retorno das aulas presenciais apenas quando for seguro para profissionais, alunos e famílias, e disse não acreditar que, até 28 de junho, as unidades estejam adequadas para o retorno.

“Sou favorável ao retorno sim, mas ao retorno responsável, não um retorno inconsequente como se tem proposto. Um retorno que não leva em consideração a estrutura. As diretoras falaram aí que, em 2 meses, as coisas podem estar ajustadas. Não creio que em 2 meses as coisas possam estar ajustadas. Tivemos mais de 1 ano. Se em 1 ano, a gente não conseguiu dar conta de banheiro de escola, de pintura de escola, de internet para aluno, de uma impressora decente para entregar material para aluno, não acredito que em 2 meses a gente consiga”, disparou Professor Michel.

Com a voz embargada, o vereador contou sobre a perda de um amigo, também professor da rede pública municipal de Macaé, que faleceu vítima do coronavírus e, lembrando previsão da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de que o país pode enfrentar uma 3ª onda da pandemia, citou a situação do Estado do Paraná, que tem quase 700 pessoas esperando vagas de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).

“A gente não sabe o que vai acontecer se eventualmente vier essa 3ª onda. E com esse quantitativo de pessoas circulando na rua, 42 mil [alunos matriculados na rede pública municipal], mais 7 mil profissionais [da rede pública municipal de educação], mais profissionais das escolas privadas, isso vai ser um caldeirão de variáveis. Não sou eu quem está falando isso não. Qualquer aluno de Ensino Fundamental, de biologia, sabe que as mutações são... E a gente vai assumir esse protagonismo irresponsável de ceifar vidas? Eu não vou ver mais o meu amigo, que dividia turma comigo, que me ajudou na época do doutorado, acalmando meu coração, por conta de um irresponsabilidade. E eu não vou ser irresponsável, não vou me calar. Eu vou me posicionar. Vão voltar? Vacina. Vão voltar? Com estrutura adequada em escola. O Paraná tem 800 pessoas na fila para UTI. ‘Ah, mas Macaé tem leitos disponíveis’. Eu não quero ser responsável por colocar ninguém na fila da UTI”, concluiu Professor Michel.

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