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Vereadores de Macaé falam sobre descaso governamental que culminou com tragédia no Museu Nacional

Museu mais importante da América Latina, Museu Nacional, no Rio de Janeiro, ficou coberto pelas chamas na noite do último domingo, 2 de setembro, em incêndio que destruiu parte significativa da História do Brasil

Em sessão desta terça-feira, 4, na Câmara Municipal de Macaé, alguns vereadores candidatos a deputado estadual aproveitaram o Grande Expediente para comentar o trágico incêndio que destruiu grande parte do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro.

O incêndio no museu, que era ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), teria começado na noite do último domingo, 2, depois que o museu já havia encerrado sua visitação, mas por falta de equipamentos de segurança, o fogo demorou a ser controlado pelos bombeiros.

Segundo a vice-diretora do museu, Cristiana Serejo, contou ao jornal Folha de São Paulo, na madrugada desta terça, 90% do acervo em exposição se perdeu nas chamas, incluindo o Maxakalisaurus topai, quadrúpede herbívoro que era o maior dinossauro já montado no Brasil.

Considerado a maior perda histórica e científica da história brasileira, o incêndio no Museu Nacional destruiu, além da maior parte dos 20 milhões de itens, um edifício que completou 200 anos neste ano e foi moradia de 1 rei e 2 imperadores.

“Foi uma tragédia o desastre do Museu Nacional, um desastre anunciado. É uma perda sem tamanho para a ciência e a tecnologia do Brasil, que viu grande parte de sua memória se acabar. Essa tragédia levanta uma questão muito importante sobre o que nós estamos fazendo para preservar esses espaços, em todos os sentidos, federal, estadual e municipal. A memória é tudo que se constrói de um povo, de uma sociedade, de uma civilização. E agora tudo isso acabou. Por isso, é importante reforçar algumas lutas que a gente sempre teve. É inadmissível esses investimentos que os governos, todos eles, federal, estadual e municipal, vêm fazendo na cultura e na educação. Não há orçamento para preservar os nossos espaços culturais. O Palácio dos Urubus, o Palácio Cláudio Moacyr, antiga sede e hoje Museu do Legislativo, o Ginásio do Ypiranga, está tudo se acabando. E não há um projeto para impedir isso”, comentou o vereador Marcel Silvano (PT), que chamou o descaso do governo federal com o Museu Nacional de “lamentável”, entre outros adjetivos.

A indignação do vereador se explica pela falta de atenção do governo federal com um dos prédios mais importantes da História do Brasil, e um dos museus mais importantes do mundo. Segundo reportagem do Bom Dia Brasil, da TV Globo, em maio deste ano, o Museu Nacional, que deveria receber 550 mil reais de repasses da UFRJ, estava funcionando há 3 anos com orçamento reduzido a apenas 60% desse valor.

Enquanto alguns culpam a PEC 241, do governo Temer (MDB), que congelou os gastos públicos para áreas como a cultura e a educação, o inchaço da máquina pública pode ter sido uma fagulha muito pior para a situação caótica em que se encontrava o Museu Nacional.

Segundo informações do Ministério da Fazenda ao jornal O Globo, publicadas nesta segunda-feira, 3, enquanto o gasto com a folha salarial da UFRJ aumentou de 2,1 para 2,6 bilhões de reais e o custeio subiu de 464 para 497 milhões de reais, as verbas para investimentos da universidade caíram de 65 para apenas 14 milhões de reais.

Junte-se a isso a falta de políticas públicas dos governos, federal, estaduais e municipais, na educação, responsável, entre outras coisas, por ensinar um povo a não apenas respeitar sua história, mas preservá-la e ter orgulho dela, o que, inclui, por exemplo, frequentar museus, entre outras coisas.

Para entender o déficit nacional nessa área, basta olhar dados divulgados pela BBC News Brasil, também nesta segunda, sobre os números de visitantes brasileiros ao Museu Nacional e ao Museu do Louvre, em Paris, na França.

Parece inacreditável, mas em 2017, mais brasileiros visitaram o famoso museu francês – sim, do outro lado do Oceano Atlântico! – do que o maior museu da América Latina. No ano passado, foram 298 mil brasileiros registrados pelo Louvre, enquanto apenas 192 mil visitantes do Museu Nacional.

A forma como o povo brasileiro enxerga sua cultura também foi tema da abordagem do vereador Dr. Luiz Fernando (PTC), que aproveitou para criticar o candidato a presidente, Jair Bolsonaro (PSL), e suas propostas políticas - ou falta delas.

“Estamos vivendo um período de crise ética e moral na política. Isso é falta de memória. Com o incêndio do Museu Nacional, o Brasil perde sua memória. Toda a memória que o país tinha desde o descobrimento virou cinzas, literalmente. Talvez esteja aí o problema. Talvez os governos tenham deixado queimar mesmo, porque um país sem memória é um país fácil de manipular. Está aí o Bolsonaro que vai resolver tudo na bala. Bota fogo em tudo. Falta de memória. As pessoas esquecem, mas eu não esqueço que na rua que eu morava, quando mudei de Quissamã para Macaé, 5 famílias ficaram sem saber onde estavam seus entendes queridos, que desapareceram, levados pela Ditadura. E isso acontecia toda hora. Mas falta memória”, criticou o vereador.

E da plateia que acompanhava a sessão, veio a – triste – confirmação de que o parlamentar tinha razão. Quando o oposicionista comentou que a população não se lembrava das torturas e dos desaparecimentos do Golpe de 64, uma mulher falou à outra, baixinho, “não lembro mesmo; em 64 eu não era nascida”.

Depois do desastre, segundo a matéria do jornal O Globo, o Ministério da Educação prometeu 10 milhões de reais para a reforma do museu, enquanto a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), prometeu mais 5 milhões de reais. Todavia, a reforma só deve começar em 2019 – isso, pelo visto, dependendo de quem vencer as eleições em outubro deste ano.

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