X

Secretário do Ministério Público Federal sugere renúncia de Michel Temer

Presidente foi denunciado pelo dono da JBS por envolvimento na compra do silêncio de Eduardo Cunha

 

 

Tunan Teixeira

 

Parece coisa de ficção, mas desde a noite desta quarta-feira, 17, as circunstâncias que levaram ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) parecem começar a ser desvendadas depois de mais uma delação premiada da Operação Lava Jato.

Segundo o colunista do jornal O Globo, Lauro Jardim, os donos da JBS, maior frigorífico do Brasil, teriam dito em delação à Procuradoria Geral da República (PGR), que possuem gravações do atual presidente, Michel Temer (PMDB) dando aval para a compra do silêncio de Eduardo Cunha (PMDB), preso pela Lava Jato, em outubro de 2016.

A trama, que mais parece vinda do seriado norte americano House of Cards, fica no mínimo nebulosa quando lembramos que Cunha era o presidente da Câmara Federal que liderou o processo de impeachment de Dilma, e que levou Temer ao poder, o que muitos chamaram de “golpe civil-institucional contra a democracia”, chegando, inclusive, a comparar o evento com o golpe civil-militar que mergulhou o país na pior ditadura de sua história, entre 1964 e 1985.

As repercussões do caso, divulgado pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, na noite de quarta-feira, foram tão grandes que a própria Netflix, serviço de streaming responsável por House of Cards, chegou a publicar no Twitter oficial do seriado, que “Tá difícil competir”, em alusão ao enredo da série, que conta o jogo sujo de seu protagonista para chegar à presidência dos Estados Unidos.

Ainda na noite de quarta-feira, o secretário de Cooperação Jurídica Internacional do Ministério Público Federal (MPF), Vladimir Aras, sugeriu a renúncia de Temer em sua conta no Twitter, após divulgação das delações dos donos da JBS.

“Diante de uma denúncia tão grave, a solução adequada em qualquer lugar do mundo seria a renúncia”, disse Aras, que é auxiliar direto do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot.

De acordo com a reportagem de O Globo, o empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, teria gravado uma conversa em que conta a Temer que pagava uma mesada a Cunha e ao doleiro Lucio Funaro, um dos operadores da Lava Jato, em troca do silêncio de ambos, que estão presos, e que Temer teria, segundo o jornal, dito que “tem que manter isso, viu?”.

Ainda conforme o jornal, Joesley teria confirmado o pagamento de 5 milhões de reais a Eduardo Cunha após sua prisão na Lava Jato, e que a empresa ainda “devia” ao ex-presidente da Câmara Federal outros 20 milhões de reais referentes à tramitação de uma lei sobre desoneração tributária do setor do frango.

Além de Temer e Cunha, outros dois nomes da base aliada do governo foram citados nas delações premiadas dos donos da JBS, os dos senadores mineiros Zezé Perrella (PSDB) e Aécio Neves (PSDB). Vale lembrar ainda que antes de ser envolvido na Lava Jato, Cunha teria dito que “levaria outros com ele” caso fosse preso, como foi, mas nunca entregou ninguém, mesmo após ser condenado a 15 anos de prisão, em março deste ano.

Em nota à imprensa, divulgada ainda na noite de quarta-feira, a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência nega que Temer tenha solicitado pagamentos para comprar o silêncio do ex-aliado, e nega qualquer ato com intenção de atrapalhar as investigações da Lava Jato.

Leave a Comment