Apesar de ser do mesmo partido do presidente, Sergio Zveiter diz que denúncia é grave e deve ir a plenário
Foto: Marcelo Camargo
Tunan Teixeira
Mesmo sendo do mesmo partido do presidente, o deputado Sergio Zveiter (PMDB-RJ), relator da denúncia de corrupção contra Michel Temer (PMDB) na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara Federal, e na última segunda-feira, 10, defendeu a aceitação da acusação apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Alegando que “a denúncia é grave”, o relator, que disse não temer represálias do partido, já era considerado um parlamentar de atuação independente, provocando o temor na base aliada de que poderia adotar essa posição diante da denúncia.
“O que está em discussão não é o direito individual do presidente, mas a Presidência da República, daí a necessidade de se fazer uma analise criteriosa do conjunto dos indícios colhidos no inquérito”, afirmou Sergio Zveiter.
A CCJ da Câmara Federal é formada por 66 deputados, e tem a responsabilidade de analisar a adequação da denúncia à Constituição brasileira.
Após a leitura do relatório, o colegiado deve ouvir a defesa técnica de Temer, representada pelo advogado Antonio Cláudio Mariz de Oliveira, e encerrar o encontro com a concessão de um pedido de vista por parte do presidente da Comissão, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG).
“Por tudo o que vimos e ouvimos, não é fantasiosa a acusação. É o que temos e o que deve ser apurado”, defendeu o relator.
Segundo comentaristas políticos, a posição de Zveiter contra o presidente de seu próprio partido, poderia intensificar o esvaziamento da base aliada, uma vez que estimularia traições ao governo em outros partidos.
“A presente acusação contra o presidente Michel Temer é grave e ela não se apresenta inconsistente, frágil, desprovida de força provatória, aptas a possibilitar que a nossa Casa Legislativa denegue a necessária autorização para que se instale o devido processo penal”, disse Zveiter.
Com baixíssima aprovação popular, Temer se esforça de todas as formas que pode para convencer parlamentares a se exporem em sua proteção, enfrentando resistências dos que miram às próprias reeleições, em 2018.
Nesta quarta-feira, 12, devem se iniciar os debates na CCJ, com o direito à fala dos 66 titulares e 66 suplentes, totalizando 132 parlamentares. Além destes, os líderes partidários podem se manifestar a qualquer momento, e a expectativa de Pacheco é que a Comissão possa analisar o relatório de Zveiter até a próxima sexta-feira, 14, em votação simbólica que pode influenciar a decisão do plenário, onde o parecer do relatório precisa do apoio de 342 dos 513 deputados para ser aprovado, em votação nominal e aberta.
No entanto, para fortalecer sua defesa em plenário, o governo estaria por trás de substituições na CCJ, nas quais líderes de partidos da base aliada substituíram deputados favoráveis à denúncia por colegas dispostos a defenderem o presidente.
Entre os partidos que executaram movimentações desse tipo, estão PR, PSD, SD e o próprio PMDB, mas a manobra ainda pode não surtir efeito, já que partidos fortes da aliança do governo, como o PSDB, já anunciaram que não farão as substituições para proteger o presidente, acusado pela PGR depois de delações premiadas dos donos da JBS de que estaria envolvido na compra do silêncio do ex-presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso no fim de 2016, e que, segundo noticiou a CBN nesta segunda, pode estar fechando acordo para nova delação premiada à Polícia Federal, que, inclusive, envolveria o nome de Temer.
Ainda de acordo com a CBN, o maior receio da bancada aliada é defender o presidente agora, e ter que retroceder depois das delações de Cunha e do doleiro Luis Funaro, acusado de ser o operador do ex-presidente da Câmara, também preso e que também estaria negociando delação envolvendo o presidente e seus aliados.
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