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Desafios do mercado de trabalho das mulheres são temas de audiência pública da Câmara de Macaé

O Centro Cultural do Legislativo recebeu, na noite dessa quarta-feira, 15, a audiência pública “Elas Pensam Macaé” para discutir soluções para as ainda grandes desigualdades do mercado de trabalho para as mulheres.

Conduzida pelo 3º ano consecutivo pela única mulher eleita na atual legislatura, a vereadora Iza Vicente (REDE), a audiência ressaltou que apesar das desigualdades, que ainda são grandes, os avanços podem e devem ser celebrados.

Com o tema “Os desafios das mulheres no mercado de trabalho”, a audiência pública contou com autoridades municipais e personalidades que se destacam pela defesa da pauta em Macaé e na região, tendo na plateia estudantes e trabalhadoras.

Entre os avanços conquistados pelas mulheres frente às desigualdades, está a redução da disparidade salarial entre homens e mulheres com trabalhos semelhantes, que, apesar de oscilações em 2017, 2018 e 2021, segue diminuindo desde 2012.

De acordo com números de um estudo da pesquisadora Janaína Feijó, da área de Economia Aplicada da Fundação Getúlio Vargas (FGV), com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), da FGV, apenas da redução da diferença na última década, as mulheres ainda ganham 23,4% menos que os homens em cargos semelhantes.

Relembrando os debates das últimas 3 edições do Elas Pensam Macaé, a vereadora Iza Vicente citou, entre as conquistas da atual gestão municipal, a implementação da Rede Cegonha no Hospital Público Municipal (HPM), programa que acompanha mulheres desde antes da gestação até o pós-parto.

“No 1º ano, o tema foi sobre a violência doméstica e hoje temos uma secretaria no Executivo criada para tratar da questão. Já em 2022, o foco esteve na Saúde e no enfrentamento da violência obstétrica. Para garantir os direitos de todas as gestantes, o HPM receberá investimentos milionários na ampliação da maternidade”, contou a vereadora.

Servidora municipal há 13 anos, a professora e pesquisadora, e ex-secretária adjunta de Trabalho e Renda, Sabrina Nunes, reforçou que as dificuldades das mulheres no mercado de trabalho em Macaé não ficam restritas somente à qualificação.

“Muitas mulheres encontram desafios maiores até mesmo antes de buscar uma vaga. No ano passado, atendemos 2,8 mil [mulheres], enquanto o número de homens chegou a 4 mil”, contou Sabrina Nunes.

Coordenadora do Núcleo de Educação para o Trabalho, Anne Cordova acrescentou que muitas empresas sequer chamam mães para entrevistas, dificultando ainda mais o acesso das mulheres às oportunidades oferecidas no mercado de trabalho na cidade.

“Isso comprova a exclusão maternal. A gente vê o anúncio de vaga para ambos os sexos, mas sabemos que, na hora, eles já eliminam mães com filhos pequenos, mesmo que sejam mais qualificadas”, denunciou Anne Cordova.

De acordo com a Câmara, mesmo nesse cenário em que a prefeitura comemora mensalmente os recordes de geração de empregos na cidade nos últimos 2 anos, o cenário ainda é considerado difícil para as mulheres, que encontram alternativa somente no mercado informal, sem direitos trabalhistas.

“Hoje, as mulheres ganham 20% a menos do que os homens exercendo o mesmo cargo. Se for uma mulher negra, a diferença chega a 57%. Fora a questão financeira, sabemos que é uma realidade o assédio moral e sexual, além da imposição de metas abusivas e de humilhações que muitas enfrentam diariamente”, ressalta a professora de Direito do Trabalho da Universidade Federal Fluminense (UFF), Gabriela Caramuru.

Representante do atual governo do prefeito Welberth Rezende (CIDADANIA), a nova secretária de Políticas para as Mulheres, Sheila Juvêncio, demonstrou otimismo apesar das desigualdades do mercado de trabalho para as mulheres.

“Estou em uma pasta nova e aceitei o desafio de conduzir os trabalhos há poucos meses, mas já temos conquistas, como a inauguração da Sala Lilás, no HPM, para o acolhimento de mulheres vítimas de violência. Temos muito a fazer ainda e reconheço a importância simbólica de ser uma mulher preta em uma posição de poder, assim como a Iza”, avaliou Sheila Juvêncio.

No encerramento da audiência, a Câmara promoveu a entrega de moções para mulheres que se destacam na sociedade macaense, com destaque para a maquiadora e penteadista, Jheniffer Ozório, que se formou no ramo da beleza por meio de um curso gratuito ofertado pelo Centro Técnico de Educação Profissional (CETEP).

“Lembro que a minha 1ª formação veio há 10 anos e sequer conseguia o dinheiro da passagem. Tinha que ir andando, mesmo com problema no joelho. Naquela época, era raro ver mulheres negras como eu em postos de liderança. A Sheila foi um grande exemplo na minha vida e hoje quero mostrar para outras que é possível mudar a nossa realidade. Somos sementes”, concluiu Jheniffer Ozório.

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